sexta-feira, 3 de julho de 2015

Aprendendo com as derrotas: as lições mais duras do Jiu Jitsu

Eu tive muitas derrotas na minha vida, mas houve duas em um campeonato com as quais eu aprendi muito. Foram em 2012, quando eu lutei a seletiva pro Mundial de Abu Dhabi no RJ.
Eu vinha de lesão e treinei bastante, mas para mim não tinha sido o suficiente, dado o tempo que tinha ficado parado. Ganhei a primeira luta do peso e classifiquei para o absoluto(que valia a passagem). Mas na segunda luta do peso, eu perdi. Eu tinha ido pra Niterói com dinheiro contado e feito muito sacrifício para estar ali. Levantei do tatame com muito peso no coração e caminhei até um shopping próximo do ginásio, vagando, me sentindo um lixo: como eu queria vencer o absoluto se eu perdi na segunda luta do peso? Talvez eu não levasse jeito pro Jiu Jitsu, talvez eu devesse desistir. Pela primeira vez eu me questionava muito seriamente e com severidade.
Aí, repentinamente, como uma coisa nova que aparece na mente, eu olhei pra dentro de mim mesmo e vi que eu amava aquilo e que eu não conseguiria fazer outra coisa, que eu lutaria com toda a garra e que, mesmo que eu perdesse, eles teriam que me bater de verdade, pq eu não iria desistir.
Voltei pra lutar o absoluto. O ginásio era muito sujo, pisávamos em urina pra ir ao banheiro, tudo era frio, não tinha água, e cheirava a esgoto. Olhei pra área de concentração, e, de súbito, fiquei animado. Ali estavam os melhores competidores de minha geração, alguns que hoje são estrelas na preta. Era uma honra estar no meio deles e me testar com eles, se eu vencesse aquilo eu poderia me considerar realmente bom, pq os melhores estavam ali.
Eu lutei com muito coração, uma luta após a outra, e fui avançando, num total de 5, deixando grandes caras pra trás; caras que inclusive, não eram apenas bons atletas, mas tinham feito esforços tão grandes quanto eu, e eram tão boas pessoas quanto eu, como o Pedrinho Moura de Brasília e tantos outros, que têm um coração enorme.
Fiquei horas lá, pq as lutas atrasaram muito, terminando quase de noite. Eu estava cansado, mas pensava em cada luta por vez, e puxava uma energia do além pra ir indo em frente.
Cheguei na final do absoluto, que seria no outro dia de manhã, e eu tinha só 30 reais no bolso (que iria usar pra comer no dia seguinte). Tentei dormir no ginásio, mas quando chegou a noite eles fecharam e me expulsaram. Fui pra uma praça perto da praia e deitei em um banco, mas o movimento das pessoas de madrugada não me deixava dormir, sempre acabava abrindo o olho pra ver se era algum trombadinha ou algo assim. Por fim, no meio da madrugada vi que seria impossível dormir na rua e procurei uma hospedaria qualquer que desse pra pagar com 30 reais. Negociei com o dono de um hotel velho e fiquei num quarto no porão, de pedra, que parecia uma senzala de escravos. Tinha baratas e pulgas e um fino lençol sujo. Acordei de manhã e percebi que tinha algumas moedas que davam pra um único pão com polenguinho, e foi isso que tomei de café da manhã. Fui pro ginásio fazer a final, um tatame no centro, todo mundo assistindo.
No começo da luta tomei uma raspagem que já conhecia, mas nunca havia pensado em como defender. Eu tinha sido negligente no aprendizado. O cara quase caiu montado, eu explodi pra não deixar estabilizar e repus a guarda. Raspei e passei no final. A luta enfim tinha acabado. Achei que tinha ganhado de 5 a 2, mas, quando olhei no placar, o juiz tinha dado os 4 pontos da montada pro meu adversário. Eu não acreditava. Chorei naquele dia, não pela passagem, não por ir a Abu Dhabi, mas pelo meu esforço.
No entanto, apesar de tudo, eu aprendi duas coisas naquele dia: nunca mais tomei aquela raspagem, e nunca mais duvidei de mim mesmo. É assim que as derrotas podem ensinar, se vc estiver disposto a tirar o que de bom possa vir delas. Elas não são desejáveis, mas são também boas mestras.

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